FELIZ 2011





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sábado, 27 de novembro de 2010

PROCESSOS MENTAIS: ouvindo


Alguém me chamou, e agora?

Valeu... essa pescada, muito, muito elucidativa... ajuda o nosso entendimento pela objetividade da redação.


          Você está no meio de uma multidão, todos falam ao mesmo tempo, porém você reconhece uma voz chamando seu nome e sua atenção se orienta para esta direção. Você movimenta sua cabeça, e seus olhos começam a buscar a fonte daquele som familiar. Alguns segundos depois você visualiza a pessoa que o está chamando [1].






           Esta situação, extremamente comum em nossas vidas, pode estar relacionada com um intrincado e complexo emaranhado de processos percepto-sensoriais executados pelo cérebro. Quando, ao meio da multidão, você consegue perceber e reconhecer uma voz voltando o foco da atenção para esta direção, podemos enumerar, de forma básica e estrita, quatro processos mentais: percepção, atenção, memória e emoção.
          Ora, como é possível que algo tão simples movimente tanto o nosso cérebro? De fato, para compreender tantas informações, precisamos anular ou ignorar diversas forças físicas externas que estimulam nossos sentidos. A audição é mais um dos nossos seis sentidos (para responder a óbvia pergunta: ‘qual é o sexto?’, bom, há divergências na literatura, mas propomos a propriocepção que é a capacidade de sentir seu próprio corpo, tanto internamente quanto externamente, contudo, apesar de parecido é diferente do tato [2]). Quando ouvimos alguma coisa, significa que estamos não só percebendo, como ignorando diversas outras informações que não são relevantes naquele momento, pelo menos é o que julga nosso cérebro. Concordamos com a propositura de Ronald Henry Forgus [3] quando afirma que a percepção é um processo de extração da informação, isto é, dentre tantos estímulos físicos externos, selecionamos aqueles que nos são importantes naquele momento.
           Ora, mas se existe uma seletividade para os estímulos físicos externos (ondas sonoras e luminosas, textura dos objetos, etc.) então existe uma atenção anterior à percepção? Bom, muitos estudos têm nos demonstrado que sim, haveria uma atenção automática coordenada por processos bottom-up: certos estímulos exigem maior carga de energia de nossos sentidos para serem percebidos e o cérebro os reconhece como mais importantes - é o caso de um som muito alto, uma cor muito intensa ou uma luz muito forte [4, 5].
          Porém, estamos o tempo todo sob as ações das forças físicas externas e nosso cérebro não ia dar conta de tantas informações se não tivéssemos algumas funções cognitivas superiores para controlar os processos bottom-up. Entra em ação nosso controle inibitório, uma de nossas funções executivas do córtex pré-frontal, que vai auxiliarmos a manter nossa atenção voluntária - aquela que nos é mais comum, a que conhecemos como responsável por escolhermos para onde queremos olhar, ou ouvirmos aquilo que desejamos, mesmo que haja mais estímulos concorrendo [6].
          Apesar de não nos aprofundarmos, neste texto, na memória e na emoção, apenas fazemos a ressalva de que a memória vai ser acessada para verificar se a voz que ouvimos é conhecida e o hipocampo vai dialogar com a amígdala e tentar identificar emoções positivas ou negativas que possam estar relacionadas àquela memória [2].
          Até agora discutimos somente o que concerne à Psicologia Cognitiva, com a ressalva de algumas organelas cerebrais para que se relacione com algumas funções mentais: pré-frontal para o controle inibitório e funções executivas, hipocampo para a memória de longo-prazo e amígdala para a emoção. Significa que apenas dissemos como, diante de um estímulo, somos capazes de responder (estímulo-resposta, S-R). A Neurociência nos ensina, no entanto que podemos estudar as funções mentais não somente pelo sistema de estímulo-resposta. Antônio Damásio clarifica, em sua obra, que entre o estímulo e a resposta há um processamento da informação pelo Sistema Nervoso que pode ser alterado de acordo com diferentes características morfofuncionais de cada organela cerebral. Podemos inferir o modelo S-O-R: estímulo-processamento-resposta, característico das Neurociências [1, 7].
          E quanto à atenção e à audição? Como funcionam no cérebro? Bom, há diversas teorias que tentam explicar estes processos. Contudo, o que sabemos, é que os estímulos físicos chegam aos nossos ouvidos na forma de ondas sonoras. Estas ondas são propagadas através da movimentação das moléculas do ar. A amplitude da onda determina seu volume, enquanto a freqüência se o tom é mais agudo ou grave. O ouvido externo capta as ondas através da aurícula que as direciona para o canal auditivo externo. As ondas são amplificadas e são direcionadas para o tímpano (uma fina membrana responsável pela divisão entre ouvido externo e ouvidos médio e interno) que vibra de acordo com as características de amplitude e freqüência. Esta vibração age sobre os ossículos (martelo, bigorna e estribo) que mais uma vez amplificam e transmitem as vibrações para a janela oval da cóclea. O líquido coclear é responsável por transmitir as informações para o nervo auditivo constituído por um feixe de axônios com via aferente para o bulbo e o núcleo coclear no tronco encefálico. O percurso dos impulsos elétricos dos neurônios do tronco encefálico constitui-se em três diferentes vias: colículo inferior do mesencéfalo, núcleo geniculado medial do tálamo e região cortical A1: córtex auditivo primário localizado no lobo temporal. As informações processadas no córtex auditivo primário são passadas às áreas de respectivo interesse para sua compreensão: córtex auditivo do lobo temporal esquerdo quando o som é a fala ou alguns sons de conteúdo semântico, enquanto o córtex auditivo temporal direito recebe informações de conteúdos emocionais e musicais [1].
           E neste rolo todo, como fica a atenção? Dentro de nossa perspectiva cognitiva, podemos apontar duas atenções: a atenção automática e a atenção voluntária. Lembremos que ambas são diferentes e, por consequência, estão envolvidas em diferentes processos cerebrais.
          Atemo-nos nos sistemas da atenção: uma vez que os impulsos elétricos emitidos pelo nervo auditivo alcançam o tronco encefálico, uma das vias aferentes alcança o córtex auditivo primário. O cérebro, então, vai processar se devemos, ou não, voltarmo-nos para aquele estímulo sonoro através do córtex ínfero-temporal, e se devemos manter nossa atenção voltada para aquele estímulo: sob o controle do córtex pré-frontal. Contudo, a literatura ainda discute a função destas diferentes regiões cerebrais quanto à atenção [2].
          Mas espere, existe ainda a situação de sons muito altos que nos impedem de colocar voltar a atenção para outros estímulos sonoros. O que acontece quando nos deparamos com amplitudes de onda acima de 130 decibéis é o Reflexo de Atenuação. Apesar das divergências na neurociência, o que se encontrou até agora é que o ouvido humano possui uma estratégia de atenuação dos sons muito altos: o músculo tensor do tímpano que se liga ao martelo, e o estapédio que se liga ao estribo e o ossículo da janela oval da cóclea, se enrijecem diminuindo a vibração dos ouvidos médio e interno. O paradoxo entre a intensidade da amplitude e o enrijecimento do músculo tensor do tímpano e do estapédio podem ser traduzidos pelo cérebro como perigoso ao organismo o que provoca comportamentos de evitação do som como, por exemplo, levar as mãos ao ouvido para diminuir a vibração da aurícula e impedir a entrada de ondas com altas amplitudes [2].
          Poxa vida, quanta coisa se relaciona somente com a audição! Se dúvida há muito mais perguntas do que respostas na ciência contemporânea, mas aos poucos estamos mostrando evoluções no sentido da compreensão dos complexos processos que envolvem percepção e atenção.

[1] KOLB, B., WISHAW, I. Q. (2002). Neurociência do Comportamento. Barueri: Manole.
[2] LENT, R. (2004). Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Atheneu.
[3] FORGUS, R. H. (1971). Percepção: o processo básico do desenvolvimento cognitivo. São Paulo: Herder.
[4] TREISMAN, A. (1992). Perceiving and Re-Perceiving Objects. American Psychologist. 47(7), 862-875.
[5] ROSSINI, J. C., GALERA, C. (2006). Atenção visual: estudos comportamentais da seleção baseada no espaço e no objeto. Estudos de Psicologia. 11(1), 79-86.
[6] GAZZANIGA, M.S., HEATHERTON, T. F. (2007). Ciência Psicológica: Mente, Cérebro e Comportamento. 2ª Edição. Porto Alegre: Artmed.
[7] DAMASIO, A. R. (1996). O erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano. São Paulo: Companhia das Letras.
muito boa mesmo essa informação. pesquei na net

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